Nesta última semana, me deparei pensando no porquê a cidade em que nascemos, nossa cidade de origem, recebe também o nome de “cidade natal”. Com esta dúvida latente na minha cabeça, fui pesquisar na internet, que sempre nos dá respostas rápidas e eficientes para todas as nossas perguntas, certo? Errado. Fui em sites de pesquisa conhecidos, em tantas repostas, a minha não estava inclusa. Continuei então ponderando o porquê deste nome. Então, resolvi definir minha cidade natal, criar meu significado.
Porém, meu impulso surgiu em uma conversa com um amigo, quando ele me perguntou se eu havia morado em outra cidade, estado, país, ou sempre morei na cidade em que nasci. Minha resposta: sempre morei em João Pessoa, com um sorriso estampado no rosto e para minha surpresa ele pareceu desapontado. Mas, por que afinal? Eu gosto da minha cidade, nasci aqui, sempre morei aqui, estou acostumada. Lógico que já fui a muitos lugares, adoro viajar, quem não gosta? Mas, apesar de me divertir conhecendo os hábitos de diferentes cidades, seus moradores, monumentos e bares, sempre penso que para morar em uma delas eu precisaria de uma mini João Pessoa dentro. Meio exagerado, porém é pura verdade.
Pode-se justificar dizendo que meu apego à cidade é na verdade apego por meus amigos e sensação de segurança por sempre ter morado aqui. No entanto, eu acho que vai além. Em minha defesa devo dizer que gosto do cheiro da minha cidade, do fato dela ser a mais tranqüila das capitais do nordeste, de ter um ar de cidade pequena, de ser limpa, do clima agradável, do trânsito organizado, de ter uma carga cultural e histórica extensa e interessante(o nome da cidade é uma homenagem ao Presidente paraibano João Pessoa),das pessoas (que no geral são educadas), da facilidade de ir de um lugar ao outro (desde que não seja após as 22h), já que a cidade é pequena.
Lógico que como tudo na vida tem dois lados, assim é a minha cidade natal. Todo mundo diz “João Pessoa é um ovo”, até comunidade nomeada deste jeito existe no orkut, e eu concordo em número, gênero e grau com esta máxima. Se você não conhece determinada pessoa, não se aflija: espere e com pouco tempo você vai perceber que ela conhece no mínimo dois amigos seus, ou seja, o contato é inevitável. Aqui as fofocas voam, ou seja, nada de dançar em cima do balcão do bar, ou entrar na piscina do amigo numa festa só de calcinha e sutiã.
Em algumas horas do dia a mobilidade, se você não tiver carro, se torna impossível, então “Adeus shows em bairros longe da sua casa”, pois a segurança já não é a mesma. Nosso Zoológico quase não tem bichos, além é claro das modinhas e manias que rodam a cidade, nunca vi, parece até que as pessoas dormem e se transformam no sono, se tornando alguém completamente diferente. Ah! Sem esquecer é claro, da mania e facilidade de alguns, em de julgar e rotular, mas creio que isso ocorre em todos os cantos, porém este hábito entra, na minha opinião, nas características de cidade pequena, de interior.
Mas a cor de João Pessoa se sobrepõe a tudo isso, tanto que tantos buscam a segunda cidade mais verde do mundo para morar. Verdade, pessoas vêm passar férias e vão ficando, ficando, ficando... João Pessoa mexe mesmo com todos os nossos sentidos. No retorno de uma viagem, sempre me sinto estranha com minha cidade, meio com vergonha e culpa não sei de quê e porque, mas isto logo passa e aquela sensação de conforto sempre surge. Além de ver as cidades que visito, de ver os amigos, aproveitar e me divertir, vejo também os defeitos das outras cidades e qualidades e percebo que as qualidades delas não são suficientes para me fazer deixar minha terra.
João Pessoa tem assim, um cheiro de mar com rio, um som de frevo das muriçocas com a zabumba do forró pé de serra, vê o sol nascendo no horizonte marítimo primeiro, se pondo no rio Sanhauá e tem as cores. Nossa, que cores! Amarelo, azul, vermelho e preto nas eleições, branco no dia de Iemanjá e no ano novo, no natal, o verde das árvores, o vermelho dos laços, o dourado... além das luzes, o céu azul com rosa às 17h, o mar até onde à vista alcança, Picãozinho com seus vários tipos de peixe, Areia Vermelha (que de vermelha não tem nada) ao longe.
Pensando nas cores de João Pessoa só uma frase me vem a cabeça “Que a alma não tem cor. Ela é colorida, ela é multicolor”, do Paraibano, nascido em Catolé do Rocha, Chico César. Na música ele cita a alma, mas eu vou pedir licença e usá-la para definir minha cidade natal: João Pessoa. Que está tão intrínseca nas minhas memórias boas e ruins, em mim, em quem eu sou, na minha alma que não sei onde eu termino e ela começa. Para mim, João Pessoa não tem cor, minha cidade natal é multicolor.
Um comentário:
Parabéns pelo texto amiga! Nem é preciso dizer que escreves muito bem, ém? E que amor devoto por João Pessoa, como é bom morar onde se gosta. Eu moro em São Paulo, a terra da loucura. Tenho vontade de morar por aí... cheguei aqui justamente pesquisando mais sobre a bela João Pessoa. Ainda não a conheço, mas farei o possível para conhecer agora em fevereiro. Espero ter as mesmas impressões que tanto têm quando a conhece. Saudações a ti e seu povo! Will Brasil (editor do Bipolar Brasil).
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